Começo meu texto desta vez narrando uma parábola – inspirada pelo fabulista grego Esopo – sobre a raposa e porco-espinho.
A raposa – um animal bonito, esperto e muito inteligente – todos os dias ao se levantar planejava uma nova estratégia para caçar o porco-espinho – bicho meio esquisito, pequeno, desengonçado e com andar vagaroso. Apesar da sua perspicácia, a raposa nunca conseguia ter êxito na caçada. Com toda a sua limitação, o porco-espinho sempre se livrava dos ataques, utilizando a técnica na qual ele é especialista: fechar-se em formato de bola espinhenta, frustrando a ofensiva e se livrando do perigo iminente.
Provavelmente vocês estão se perguntando o que essa história tem a ver com negócios e gestão… Para ser sincero, tudo! Nesse artigo vou trazer uma reflexão pessoal sobre um dos capítulos do livro “Empresas Feitas para Vencer”, de Jim Collins. Uma obra que, a propósito, deveria ser leitura básica e obrigatória para todos os empresários, estudantes de Administração e quaisquer aspirantes a empreendedores.
No livro, o autor usa a parábola aqui apresentada para criar a “Teoria do Porco-Espinho” e explicar alguns elementos-chave que diferenciam as empresas excepcionais de todas as outras. Collins coloca que empreendimentos de sucesso têm uma estratégia de negócio bem definida, e que essa essa estratégia, por sua vez, se baseia em três círculos sobrepostos:
Paixão – As empresas excepcionais concentram seus esforços naquilo que realmente as apaixona. Elas identificam o que amam fazer, no que são verdadeiramente boas e no que podem se tornar as melhores do mundo. A paixão é o ponto de partida para a estratégia do porco-espinho.
Competência econômica – As empresas devem se concentrar em atividades nas quais podem se destacar economicamente. Elas precisam identificar as áreas em que podem gerar um retorno financeiro sustentável a longo prazo.
Potencial de Mercado – As empresas devem buscar oportunidades que se alinhem com sua paixão e sua competência econômica, identificando aquilo que o mercado valoriza e está disposto a pagar.
A interseção desses três círculos é o que o autor chama de “ponto do porco-espinho”. Esse ponto representa a estratégia central da empresa, onde sua paixão, competência econômica e potencial de mercado se encontram. Ao se concentrar nesse ponto, a empresa se torna altamente focada, direcionada e capaz de alcançar a excelência em seu setor.
É possível que a esta altura surjam no leitor algumas dúvidas: de que forma posso implantar essa estratégia? Como descobrir qual é a minha paixão? Será que a paixão é mesmo capaz de transformar a minha empresa na melhor do mundo? Ela será economicamente viável? Alguém vai querer pagar por esse serviço?
Pensando em todas essas questões, gostaria de sugerir cinco passos para começar a implantar a teoria do porco-espinho no seu negócio:
1 – Autoavaliação
Comece fazendo uma autoavaliação da sua empresa e reflita sobre as seguintes questões:
- Qual é a paixão que impulsiona a sua empresa? O que a empresa realmente ama fazer?
- Quais são as áreas em que a sua empresa se destaca economicamente? Onde vocês têm vantagens competitivas?
- Quais são as oportunidades de mercado que se alinham com a paixão e a competência econômica da sua empresa? O que o mercado valoriza e está disposto a pagar?
2 – Identificação do “ponto do porco-espinho”
- Analise as respostas da etapa de autoavaliação e busque identificar a interseção entre paixão, competência econômica e potencial de mercado. Esse é o seu “ponto do porco-espinho”.
- Foque nas atividades e áreas que se encontram nesse ponto e que se tornam o coração da sua estratégia de negócios.
3 – Desenvolvimento da estratégia
- Com base no “ponto do porco-espinho”, desenvolva uma estratégia clara e direcionada. Defina metas e objetivos específicos que estejam alinhados com a sua estratégia central.
- Identifique as ações e os recursos necessários para alcançar essas metas. Priorize aquilo que é mais importante para o sucesso do seu “ponto do porco-espinho” e concentre seus esforços nesses aspectos-chave.
4 – Comunicação e engajamento
- Compartilhe a estratégia do porco-espinho com sua equipe e garanta que todos compreendam e estejam alinhados com o foco central da empresa.
- Crie um ambiente de trabalho que promova a paixão e o comprometimento com o “ponto do porco-espinho”. Incentive o desenvolvimento de habilidades e conhecimentos relacionados a essa área central.
5 – Monitoramento e ajustes
- Acompanhe de perto os resultados e o progresso em relação à estratégia do porco-espinho.
- Esteja disposto a fazer ajustes e adaptações conforme necessário, levando em consideração as mudanças no mercado e nas condições do negócio.
Não podemos esquecer que a Teoria do Porco-Espinho é uma estratégia que exige tempo, dedicação e a criação de um processo de melhoria contínua. Nessa caminhada é importante estar aberto a tentar vários caminhos, experimentando alternativas e aprender com os erros e acertos, medindo sempre os resultados durante a trajetória até conseguir encontrar o seu “ponto do porco-espinho”. Portanto, nada melhor do que começar agora mesmo!
Foto: Thinkstock
0 comentários