Um novo estudo realizado em parceria pelas universidades de Stanford e Columbia (EUA) descobriu que reuniões virtuais têm uma desvantagem significativa em relação aos encontros presenciais: elas impedem a colaboração criativa.
O artigo, de autoria de Jonathan Levav, da Stanford Graduate School of Business, e Melanie Brucks, da Columbia Business School, defende que equipes presenciais geram mais ideias do que times remotos trabalhando no mesmo projeto.
Em um experimento conduzido em Stanford, metade da equipe trabalhou junto pessoalmente, e metade realizou a mesma tarefa on-line. Os pesquisadores monitoraram os participantes por vídeo, acompanhando seus movimentos oculares e linguagem, bem como as ideias que geraram. Ao final do estudo, os cientistas perceberam que os grupos presenciais apresentaram de 15% a 20% mais ideias do que seus colegas que trabalharam virtualmente.
Já em um experimento separado que envolveu quase 1.500 engenheiros, as equipes presenciais também produziram mais ideias. Além disso, essas ideias receberam classificações mais altas no quesito originalidade por serem muito diferentes umas das outras, em vez de apresentarem apenas pequenas variações do mesmo tema.
Os pesquisadores dizem ter identificado uma razão pela qual as reuniões on-line resultaram em menos boas ideias: quando as pessoas se concentram no estreito campo de visão de uma tela, seu pensamento também se torna mais estreito.
“Se seu campo visual é estreito, é provável que sua cognição também seja”, disse Levav em nota publicada junto ao artigo. “Para a geração de ideias criativas, o foco restrito se torna um problema.”
Por outro lado, os cientistas acreditam que as pessoas que se encontram pessoalmente obtêm estímulo criativo ao vagar visualmente pelo espaço em que estão, o que as torna mais propensas a vagar cognitivamente também. “Em uma interação por vídeo, você precisa fixar o olhar na tela, porque senão você projeta para o seu parceiro que está distraído e olhando para outra coisa”, afirmou Levav. Mas, segundo ele, essa distração é realmente útil quando se trata de gerar ideias.
No entanto, Levav, que é professor de marketing e estuda como as sugestões ambientais afetam as escolhas das pessoas, adverte que essas descobertas não significam que as reuniões virtuais não tenham valor, já que não parecem atrapalhar o bom relacionamento dos participantes.
Usando a análise semântica de como os participantes falavam uns com os outros, os pesquisadores notaram que as equipes virtuais e presenciais mostraram a mesma quantidade de confiança mútua e conexão social. O estudo também descobriu que os grupos que se reuniam on-line se saíam tão bem e possivelmente melhor do que os times presenciais quando se tratava de selecionar as melhores ideias.
Como o trabalho remoto continua sendo uma constante na vida de muitas pessoas, Levav ressalta que vale a pena explorar como as reuniões virtuais funcionam em outros contextos, como entrevistas de emprego e colaborações em grupos maiores. E que os custos e benefícios das jornadas remotas são menos compreendidos do que a maioria das pessoas imagina.
“A pandemia chegou sem nos dar a chance de pensar em como fazer o trabalho remoto direito. Se vamos manter essa transição, precisamos refletir sobre como gerenciamos o processo. Esse será o desafio dos próximos anos”, destacou.
Fonte: Valor Econômico (Fernanda Gonçalves)
Foto: Canva