Valor do metro quadrado nos bairros mais cobiçados da capital paulista aumentou 60% desde julho de 2020
A expressiva valorização dos imóveis de alto padrão em São Paulo iniciada ainda na pandemia, em meados de 2020 — motivada por uma demanda reprimida do consumidor de alta renda, escassez de produtos aderentes a esse público e taxa de juros em níveis baixíssimos —, não parece dar sinais de que vá perder o fôlego este ano.
Com a Selic ainda na casa de um dígito, a perspectiva do setor é que o impacto no preço dos imóveis seja insuficiente para frear o apetite dos compradores. E, com a procura em alta, os preços dos ativos não param de subir.
O valor do metro quadrado das casas localizadas em condomínios de luxo no interior do estado e dos apartamentos situados nos bairros mais cobiçados da capital registrou crescimento médio da ordem de 300% e 60%, respectivamente, desde julho de 2020. Diante de números tão superlativos, muitos investidores têm se perguntado se ainda é um bom negócio adquirir imóveis de luxo. Para os especialistas do segmento, contudo, não há dúvida.
“Pensando em um horizonte de longo prazo e para quem tem flexibilidade financeira para fazer esse tipo de investimento, o momento ainda é bem favorável”, avalia Renan Manda, head de Real Estate da XP Investimentos. Segundo o analista, o segmento vive um ciclo de recuperação após a forte crise no final da década passada. Agora, com as empresas do setor imobiliário menos alavancadas e com mais caixa disponível, taxas de juros próximas das mínimas históricas e a volta da demanda, a tendência é uma subida permanente de preços.
O executivo da XP justifica sua análise com os números da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip). De acordo com a instituição, o volume de recursos captados para crédito imobiliário junto ao Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) — o principal funding utilizado para o financiamento de imóveis de médio e alto padrão — alcançou a cifra de R$ 124 bilhões, um recorde histórico.“Neste ano, apenas entre janeiro e agosto, já foram originados cerca de R$ 137 bilhões para o mesmo fim, o que demonstra o quão aquecido está esse mercado”, disse Manda.
Seguro Rentável
Para os principais players do mercado em São Paulo, a percepção de valorização continuada é a mesma. Orlando Pereira, diretor Comercial da Cyrela, avalia que os preços desses imóveis ainda não atingiram o pico e, portanto, têm margem para crescer. Quanto à alta dos preços atual, ele ressalta: “Quem hesitou em adquirir quando o metro quadrado estava a R$ 25 mil, há poucos anos, deve estar arrependido, já que o mesmo produto hoje não sai por menos de R$ 35 mil”.
“Os preços não vão recuar”, aposta Marcello Romero, da Bossa Nova Sotheby’s, destacando, entretanto, que o ritmo da valorização deve ser mais lento em 2022, em razão de alguns cenários como as eleições presidenciais no país e a elevação no preço do custo de construção. “A grande questão é que falta produto, e os lançamentos não serão suficientes para absorver a demanda”, explica.
A rentabilidade de outros investimentos como o dólar e ações na Bolsa de Valores em relação às propriedades de luxo é questionada por Renata Firpo, diretora Internacional da Coelho da Fonseca. Na sua avaliação, o investimento mais seguro continua sendo o imó-vel, que, no caso do segmento de alto padrão, envolve localização, segurança, qualidade dos acabamentos e dos serviços oferecidos no condomínio. “Independentemente da época em que for comprado, imóvel desse tipo sempre vai se valorizar com o tempo”, diz.
Supervalorização de construções sofisticadas é fenômeno global
A supervalorização dos imóveis de alto padrão não é exclusividade das cidades brasileiras. Metrópoles mundiais como Nova York, Londres, Paris ou mesmo hotspots conhecidos como Miami e Dubai também registraram forte elevação nos preços e no volume de negócios de um ano para cá.
Nos Estados Unidos, as vendas de propriedades de luxo cresceram 61% no último trimestre de 2020, de acordo com a consulto-ria Redfin — o maior salto desde 2013. Em Palm Beach, Flórida, os apartamentos de alto padrão venderam 120% a mais. Já os sofisticados lodges dentro das estações de esqui no Colorado, como Vail e Park City, movimentaram negócios na casa de US$ 1,5 bilhão apenas no último inverno. Em Vancouver, Canadá, a comercialização de propriedades acima dos US$ 4 milhões cresceu mais de 40% em 12 meses.
Na Europa, Zurique (+8%), Estocolmo e Amsterdã (+6%) lideram o ranking de valorização, segundo o estudo The Wealth Report 2021, da consultoria britânica Knight Frank. No documento, regiões como Toscana, Côte d’Azur e Lago de Genebra registraram forte procura por second homes em 2020. Em Dubai, nos Emirados Árabes, apenas no mês de maio deste ano foram vendidas 35 mansões com preços a partir de US$ 5 milhões.
Na comparação com o restante do mundo, São Paulo é praticamente uma pechincha. No mesmo levantamento rea-lizado pela Knight Frank, a cidade obteve valorização de 3,7% dos imóveis com perfil upscale. Contudo, com o real fortemente desvalorizado perante o dólar, comprar um ativo imobiliário na capital pau-lista pode ser muito atraente.
Os pesquisadores ingleses sugerem no relatório que, com US$ 1 milhão, é possível se adquirir um espaçoso apartamento de 250 metros quadrados em bairros deseja-dos como Pinheiros e Jardins. Porém, com o mesmo dinheiro em Mônaco, o máximo que se conseguirá é morar em um estúdio de 15 metros.
Fonte: Valor Econômico
Foto: Getty Images