Residências maiores e com mais usabilidade tornam estes endereços uma espécie de Meca para os abastados
A necessidade de viver em moradias maiores, capazes de entregar mais conforto e bem-estar à família, foi ampliada no momento em que todos passaram mais tempo dentro de casa. Agora, com o avanço da vacinação e o retorno gradual às atividades presenciais, a valorização do conforto permanece na ordem do dia de quem está buscando um novo endereço. Prova disso é a alta procura por casas e mansões nos condomínios mais sofisticados do interior de São Paulo.
Empreendimentos como a Fazenda da Grama, em Itupeva, Haras Larissa, em Monte Mor, e Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz — todos a cerca de uma hora da capital paulista —, são uma espécie de Meca para onde as famílias paulistanas de alta renda peregrinaram tão logo a crise sanitária se estabeleceu, em 2020.
Na época, a second home tornou-se residência oficial para muitos, o que atraiu a atenção — e a cobiça — de quem também buscava viver com mais espaço, segurança e tranquilidade em um período tão turbulento. Resultado: disparada nos preços e nas vendas de imóveis nesses locais.
“Quando foi lançado, um lote na Boa Vista custava cerca de R$ 1 mil o metro quadrado. Hoje, a média é de R$ 2 mil a R$ 3 mil em alguns casos”, diz Marcello Romero, CEO da Bossa Nova Sotheby’s, corretora especializada em imóveis de luxo. Para ele, a supervalorização é fruto do efeito da pandemia no comportamento do público de alta renda. “Com o amadurecimento de alguns novos hábitos, a tendência é que as famílias adotem permanentemente essas moradias no interior”, estima.
Expansão antecipada
A alta demanda levou a incorporadora JHSF, proprietária do Complexo Boa Vista, a lançar novas fases do empreendimento antes do prazo previsto. Em 2020, apresentou o Boa Vista Village, um mix de lotes residenciais, hotéis cinco estrelas, campo de golfe de 18 buracos e piscina com ondas, além de um centro comercial de 20 mil metros quadrados, com lojas, teatro, cinema, restaurantes e galerias de arte.
No segundo trimestre deste ano, o projeto alcançou R$ 160, 4 milhões em vendas contratadas — alta de 247,8% em relação ao mesmo período do ano passado, quando o Village havia acabado de ser lançado.
Em 2021, a companhia fez dois novos movimentos importantes no Complexo: lançou o Boa Vista Estates, com estâncias de 20 mil metros quadrados, que já obteve R$ 190 milhões em vendas com três meses de lançamento; e adquiriu uma área de 6,1 milhões de metros quadrados que será destinada à implantação do quarto empreendi-mento do Complexo.
“Esse é um fenômeno global. A combinação de fatores como tecnologia, nova forma de lidar com o trabalho e desejo das famílias por mais espaço despertou o desejo por lugares mais amplos fora das grandes cidades”, avalia Thiago Alonso de Oliveira, CEO da JHSF.
Outros empreendimentos no interior paulista também têm investido em expansões e novidades. Em agosto, a Fazenda da Grama, a 50 minutos da capital paulista, inaugurou a Praia da Grama. O projeto fora lançado em 2019 e compreende centros esportivos, beach club, bar, restaurante e, claro, uma praia artificial contornada por um quilômetro de orla, capaz de gerar 30 tipos de ondas diferentes graças a um sofisticado mecanismo tecnológico, o Wavegarden. Para acessar a Praia da Grama, é preciso adquirir um título de sócio no valor de R$ 800 mil.
Em Monte Mor, o Haras Larissa — uma antiga fazenda fundada para a criação de cavalos puros-sangues e que recebeu o príncipe Harry, em 2012, numa partida de polo equestre —, deve anunciar em breve o lançamento oficial de uma segunda fase do empreendimento, com novos terrenos à venda.
Projetos contemplam busca por mais conforto
A valorização dos es-paços residenciais maiores e mais racionais no processo de decisão de compra de imóveis tem levado as incorporadoras a adaptarem seus projetos para atender às novas exigências.
Cozinha gourmet para receber melhor amigos e familiares nas “bolhas sociais” criadas pelo isolamento social; home office equipado; sala de estudos; opções de lazer mais robustas com áreas de sol; terraços com vista ampla; e jardins com paisagismo refinado.
Tudo isso passou a fazer parte dos planos de quem compreendeu esse novo jeito de morar.
Em um empreendimento em Moema, a Cyrela adaptou o apartamento decorado para incluir o home office, condição imposta pela consolidação do trabalho remoto. “Incluímos também uma sala delivery no projeto”, conta o diretor Comercial, Orlando Pereira.
Os ajustes podem até ser mais sutis, mas não menos importantes, como dar mais amplitude aos ambientes internos. “Há clientes que preferem penas duas suítes mesmo em um apartamento de grandes metragens”, afirma Rosi Castro, head de Operações da corretora Bamberg.
A tendência é que os apartamentos tenham as mesmas dimensões generosas de outros tempos, mas com menos cômodos. “Não se trata mais da quantidade de ambientes, mas da qualidade deles”, co-menta Lucio Júnior, CEO da construtora Lucio, à frente do Casa Brasileira, no Itaim, lançado em parceria com a incorporadora Omar Maksoud.
O projeto do arquiteto Pablo Slemenson permitiu valorizar as áreas comuns, como a passarela de concreto que dá acesso ao lobby e aos jardins com plantas nativas da Mata Atlântica, assinados pelo estúdio Cenário Arquitetura de Paisagem. Um respiro verde para quem pode desembolsar cerca de R$ 16 milhões por uma unidade.
Fonte: Valor Econômico
Foto: Divulgação