Apesar da alta dos custos, demanda de pequenos e grandes consumidores segue aquecida
Os preços de equipamentos para geração de energia solar dispararam com o agravamento da crise energética na China, principal fornecedora mundial da indústria fotovoltaica. Segundo fabricantes e distribuidoras de equipamentos, os preços dos painéis, que já estavam pressionados, tiveram nova escalada com paralisações pontuais em fábricas de silício, componente que chega a representar até 60% do custo do módulo.
Os preços de módulos e inversores iniciaram uma tendência de alta no ano passado, devido aos desarranjos nas cadeias produtivas provocados pela pandemia da covid-19, além do próprio aumento da procura com a adoção da tecnologia solar em várias partes do mundo. No fim de 2020, o setor chegou a sofrer com escassez de vidro e, agora, o grande problema é o silício. No caso do Brasil, soma-se a esse cenário a depreciação cambial – os principais componentes dos sistemas fotovoltaicos são importados, sendo que a China é responsável por cerca de 80% da produção global de painéis.
Na visão da fabricante sino-canadense Canadian Solar, os preços devem permanecer pressionados nos próximos meses.
“Falta de material é bem improvável, mas veremos sim uma maior necessidade de programação por parte dos clientes. As incertezas costumam diminuir o ímpeto comercial das empresas, elas passam a entrar no modo de segurança, aguardando que a oferta volte à normalidade”, afirma Pedro Alves, diretor executivo para a América Latina da Canadian Solar.
Uma das líderes mundiais da indústria fotovoltaica, a Canadian Solar chegou a produzir placas solares no Brasil, mas encerrou as atividades de sua fábrica. Hoje, todos os materiais que fornece são importados. Segundo Alves, a companhia tem um estoque local próprio de quase 3 mil contêineres, e está preparada para atender a demanda sem grandes dificuldades nos próximos meses.
Na distribuidora Aldo Solar, que fornece equipamentos para mini e microgeração distribuída solar, o terceiro trimestre começou com a perspectiva de um “céu de brigadeiro”, mas a crise no mercado chinês rapidamente amargou os planos mais ambiciosos. Um dos maiores problemas têm sido a questão logística.
“Os armadores não dão garantia de embarque. Estamos com uma média de cinco a oito semanas de atraso, com contêineres no chão. Estão pulando o porto [de Paranaguá], porque não tem espaço nos navios para vir para a América Latina”, diz o fundador da distribuidora, Aldo Teixeira.
O executivo destaca que o fornecimento está garantido para o que foi programado em meados do ano. “Se tivéssemos capacidade de dobrar os volumes, dobraríamos, a demanda está muito alta”. Fundada em Maringá (PR), a Aldo Solar foi comprada neste ano pela Brookfield Business Partners, braço de “private equity” da gestora.
Do lado dos investidores, o encarecimento dos sistemas de geração, em tese, poderia levar a uma desaceleração do crescimento do segmento solar – mas essa não é a aposta do mercado. A Aldo Solar, por exemplo, prevê dobrar seu faturamento em 2021, para R$ 3,2 bilhões, na esteira da popularização da geração solar para casas e comércios.
“A conta de luz subiu muito com reajustes e bandeiras tarifárias, e isso praticamente recompôs o aumento do custo do painel solar. Por isso a demanda segue acelerada, ainda é um bom investimento. O retorno (payback) dos sistemas ficou inalterado”, afirma o CEO do Portal Solar, Rodolfo Meyer.
Segundo levantamento do Portal Solar, “marketplace” e franqueadora, o investimento inicial para a instalação de um sistema de geração solar está na casa dos R$ 16,7 mil. O valor é 15% maior que o observado em março de 2020, antes da pandemia, e se refere a um sistema de 2 quilowatts-pico (kWp) de potência, para conta de energia mensal de R$ 250.
“Nesse caso, o retorno do investimento acontece em pouco mais de cinco anos. Já para os sistemas maiores, de 52 kWp, para contas mensais de até R$ 7 mil, o retorno está em três anos, é um super investimento”, explica Meyer.
Para a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o setor está enfrentando “as dores do crescimento” em todo o mundo. O presidente da entidade, Rodrigo Sauaia, destaca que as principais fabricantes estão num processo de ampliação de capacidade produtiva, de modo que a situação de fornecimento tende a melhorar no médio prazo.
No caso dos grandes empreendimentos solares, a elevação do investimento pode levar à postergação de projetos. Porém, Sauaia entende que, nesse momento, as geradoras estão olhando mais para outros fatores, como o aquecimento da demanda por contratos de longo prazo no mercado livre de energia e a janela até o fim dos subsídios das fontes renováveis. Para este ano, a entidade prevê que o país atingirá 12,5 gigawatts (GW) de potência instalada de energia solar, crescimento de 60% ante 2020.
Fonte: Valor Econômico
Foto: Claudio Belli