Crédito de carbono pode gerar US$ 100 bi ao país

25-10-2021 | Energia, Notícias

Ganho depende de rumos de artigo 6 do Acordo de Paris, diz estudo

O potencial de geração de receita com créditos de carbono para o Brasil pode chegar a US$ 100 bilhões até 2030, dependendo de como o artigo 6 do Acordo de Paris for destravado e implementado, segundo estudo da representação no país da Câmara de Comércio Internacional (ICC, na sigla em inglês) juntamente com a consultoria WayCarbon.

O secretário-geral mundial da ICC, John Denton, enviou carta a ministros de mais de 130 países apontando como alta prioridade do setor privado na COP26, em Glasgow, um acordo com regras “robustas e funcionais” para operacionalizar o artigo 6 do Acordo Climático de Paris sobre os mercados internacionais de carbono.

Diz ser um componente considerado essencial crucial, com potencial de aumentar significativamente a ambição e a ação climática, e reduzir custos, através de um maior envolvimento do setor privado e de financiamentos, tecnologia e expertise mais difundidos para incentivar a ação climática.

Conforme Denton, a implementação do artigo 6 poderia reduzir o custo total da implementação dos compromissos climáticos nacionais em mais da metade de um total de US$ 250 bilhões por ano em 2030. Os benefícios da mudança para baixas emissões são estimados em US$ 26 trilhões até 2030 em comparação com a atual trajetória de alto carbono. De acordo com a Agência Internacional de Energia, são necessários investimentos de cerca de US$ 16,5 trilhões até 2030 somente em eficiência energética e tecnologias de baixo carbono.

A ICC defende “uma abordagem multilateral coesa de preços de carbono, que, do ponto de vista da economia real, é vital para evitar as consequências não intencionais de medidas unilaterais de política climática, o que poderia colocar um entrave significativo a uma recuperação pós-pandêmica ao desencadear fricções comerciais relacionadas ao clima”.

Denton enviou carta aos ministros das Relações Exteriores, Carlos França, e do Meio Ambiente, Joaquim Leite. A ICC Brasil, capítulo nacional da ICC, em parceria com a WayCarbon, fez estudo inédito sobre as oportunidades para o Brasil em mercados de carbono, com apoio de Suzano, Microsoft, Shell, Natura, Bayer e BP.

O crédito de carbono é parte de um mecanismo de flexibilização que ajuda países e empresas que possuem metas de redução de emissão de gases estufa a alcançá-las. A cada tonelada reduzida ou não emitida desses gases gera-se um crédito de carbono. Quando um país ou empresa consegue reduzir a emissão, a depender da metodologia, ele recebe um crédito.

O estudo avalia que o Brasil tem potencial para suprir de 5% a 37,5% da demanda global do mercado voluntário e de 2% a 22% da demanda global do mercado regulado no âmbito da ONU, até 2030. E pode chegar a mais, considerando as políticas públicas, nos mecanismos do artigo 6, gerando as receitas de até US$ 100 bilhões, equivalente a 1 gigaton (1 bilhão de toneladas de CO2 equivalentes) na próxima década para os setores de agro, floresta e energia. No caso de nenhuma ambição, a estimativa de ganho fica em US$ 493 milhões.

O estudo lista recomendações para o governo brasileiro e o setor privado para alavancar oportunidades de geração de receita nessa área, com duas sendo consideradas chaves. Primeiro, entender os mercados de carbono como potencial de destravar oportunidades financeiras para recuperação econômica e crescimento sustentável. E segundo, desenvolver sistemas de monitoramento, relato, verificação e redução de emissões robustos que abarquem todos os setores produtivos da NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) brasileira.

Gabriella Dorlhiac, diretora-executiva da ICC Brasil, disse, por meio de sua assessoria, que o momento é de o Brasil “reconstruir sua credibilidade internacional e ninguém melhor que o setor privado para levar essa questão ao governo e às autoridades”.

 

Fonte: Valor Econômico

Foto: Leo Pinheiro

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