Salto tecnológico

29-10-2021 | Financeiro, Notícias

Setores de geração e transmissão devem receber R$ 100 bilhões em investimentos nos próximos cinco anos

A crise hídrica tem destacado a importância da tecnologia para aumenta a segurança no abastecimento de energia elétrica. Um exemplo está nas fontes renováveis, com destaque para os parques eólicos, um dos principais responsáveis por garantir a oferta de eletricidade nos últimos cinco meses.

Se, no fim da década de 2000, as usinas eólicas eram formadas por torres inferiores a 70 metros de altura e aerogeradores com menos de 800 kW de potência, boa parte deles importada, a instalação desses novos empreendimentos é feita hoje com a maioria das peças produzidas no Brasil, máquinas de 3 MW, torres de até 125 metros e diâmetro dos rotores de 122 metros, o que rende muito mais energia. Em junho, cerca de 16% da energia consumida no país veio da força dos ventos. “O futuro da energia é livre e renovável”, diz Elbia Gannoum, presidente da associação que representa o setor, a Abeeólica. O setor elétrico deve receber mais de R$ 100 bilhões em investimentos em geração e transmissão nos próximos cinco anos.

O avanço da eólica coincide com a maior competitividade da energia solar, que neste ano chegou a uma marca histórica: 11 GW de capacidade instalada. Com isso, a matriz elétrica passa por uma transformação nesta década. Neste ano, 63,5% da capacidade provém de hidrelétricas e 11,2% das térmicas. Em 2030, a consultoria PSR estima que as hidrelétricas caiam para 52%, as térmicas mantenham sua posição, enquanto outras fontes vão pular de 22% para 37%, salto liderado pelas usinas solares, centralizadas, com destaque para as chamadas distribuídas – quando a geração é feita por várias pequenas usinas. A fonte solar deve atingir 46 GW em 2030, enquanto as eólicas deverão chegar a 25 GW. “Mas há algumas perguntas a serem respondidas para que esse futuro se concretize. Haverá taxação de carbono? Como ficará o desenvolvimento do pré-sal? O gás dele extraído terá um preço diferenciado?”, pondera Luiz Barroso, presidente da PSR.

A expansão da geração distribuída cria a figura do “prosumidor”, ou seja, o cliente da distribuidora passa a ter papel mais ativo, ao se tornar um minigerador também. Essa tendência de empoderamento do consumidor cria o desafio para as concessionárias de se reposicionarem. “Passamos por uma revolução interna: buscamos ter o olhar do cliente que é prosumidor e também revisando os canais de contato”, disse Gustavo Estrella, CEO da CPFL em recente evento.

Com mais usinas eólicas e solares, as operações também ganham complexidade, observa Luiz Carlos Ciocchi, diretor geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Incorporar mais tecnologia implica necessidade de criar regulação que incentive esses investimentos.

Uma das partes mais visíveis da revolução tecnológica que está transformando o setor são os medidores inteligentes que são instalados em residências e permitem não apenas a leitura do consumo, mas também da geração, caso haja um painel fotovoltaico instalado no teto da casa. A maioria dos projetos hoje é parte da área de pesquisa & desenvolvimento da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), para a qual as concessionárias destinam 0,5% de sua receita operacional líquida à inovação.

O maior deles é da Copel. Em abril, começaram a ser instalados em Pato Branco (PR) os primeiros medidores inteligentes que a concessionária pretende instalar em 462 mil ligações no sudoeste do Estado, um projeto de R$ 250 milhões Apesar de incertezas regulatórias, a empresa prevê retorno de dois dígitos, em seis a sete anos, com forte redução de despesas operacionais. A tecnologia permite leitura de consumo a distância e os clientes poderão acompanhá-la no celular, por meio de aplicativo.

A Enel SP, que atende a maior região metropolitana da América Latina, já instalou 89 mil medidores inteligentes nos bairros de Perus e Pirituba, zona oeste da capital paulista. Os equipamentos fazem parte da primeira fase do projeto-piloto que irá instalar 150 mil medidores inteligentes na região até março do próximo ano, de um total de 300 mil dispositivos do projeto. “O medidor empodera o consumidor, ao permitir que ele possa modular seu consumo”, afirma o presidente da distribuidora, Max Xavier Lins.

No parque nacional de transmissão, há grandes oportunidades de negócio. Boa parte das linhas que escoam a energia nas regiões Sudeste e Sul, por exemplo, têm mais de 50 anos de idade. Levantamento do ONS mostra que existem 96.740 equipamentos com vida útil regulatória até 2022, ou seja, que estarão depreciados a partir da data. Estariam em substituição hoje cerca de 15% do total, pouco mais de 16 mil equipamentos. Trata-se de um nicho que poderá movimentar mais de R$ 30 bilhões.

 

Fonte: Valor Econômico

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