Gamificação: o que essa tendência global tem a ensinar para as empresas?

27-01-2023 | Blog

Estamos, cada vez mais, na Era dos Games. Os pais de adolescentes (como nós) que o digam! É difícil conciliar o tempo de jogo dos filhos com a necessária dedicação ao estudo, à alimentação, às atividades físicas… Os games são realmente poderosos quando o assunto é prender a atenção de alguém. Não por acaso, eles têm ganhado importância e assumido diferentes funções no mundo atual, para além da sociabilização e do entretenimento.

Estudos como o desenvolvido pelo designer e teórico de jogos norte-americano, James Portnow, revelaram que, ao jogar, o ser humano aprende sem perceber a intenção atrelada àquela atividade. Quando o game nos traz um desafio, desenvolvemos também a autonomia no processo de aprendizagem e aprimoramos ou mesmo descobrimos novas habilidades.

O pressuposto é simples: se durante um jogo as pessoas são capazes de dedicar tempo, criatividade, esforço e atenção para cumprir tarefas fictícias, imagine se toda essa energia fosse aplicada em questões da vida real? Dessa associação surgiram as primeiras experiências gamificadas com fins educativos, comerciais, motivacionais, dentre outros contextos.

No cenário corporativo, a gamificação está relacionada ao uso de dinâmicas, metodologias e estética dos jogos para engajar pessoas em um objetivo, inspirar ações e comportamentos, solucionar problemas e facilitar a assimilação de conhecimentos. Os sistemas de pontuação, fases, missões, conquistas e recompensas caíram como uma luva, por exemplo, nos treinamentos internos, nas ações de vendas e de relacionamento com o cliente.

E por que tanto sucesso? Simplesmente porque a gamificação é uma estratégia que funciona. Ela transforma um processo, seja interno ou externo, uma capacitação ou uma compra, em uma experiência! Desde os jogos mais simples até os mais elaborados e dinâmicos, todos são capazes de trazer à tona o que há de melhor em nós, despertando motivação, potencializando a produtividade, melhorando desempenhos e tornando os resultados mais mensuráveis, com feedbacks em tempo real.

Está achando muito empírico? Vamos exemplificar. Uma solução simples que usa a estratégia de gamificação é o oferecimento de recompensas à medida que produtos e serviços são adquiridos. O famoso programa de fidelidade, que incentiva o cliente a comprar mais, por meio de acúmulo de pontos, para receber um benefício no final. A Starbucks faz isso em seu aplicativo de fidelização para celular. E tantas outras empresas!

A varejista chinesa Shein, conhecida por comercializar vestuário a preços acessíveis, possui um sistema de recompensas para os usuários que avaliam os produtos comprados no site, pontuando gradualmente para obter descontos que podem chegar a até 70% do valor total de uma nova compra. Os clientes são grandes entusiastas do jogo, inclusive pedindo curtidas em suas avaliações, para que ganhem os pontos!

Como se vê, o prêmio do jogo é o elemento indispensável para fazer com que o consumidor queira interagir novamente com a marca, construindo um relacionamento. O mesmo acontece com o público interno da empresa, e é sempre bom lembrar que as iniciativas de games para os colaboradores acabam revertendo também em benefícios para o público externo, melhorando a experiência do cliente e tornando a marca mais atraente. Quando uma empresa expõe internamente, por exemplo, o tempo de resposta dos atendentes em tempo real, ranqueando e premiando, a taxa de atendimento ao cliente pode aumentar em até 50%!

O mesmo se aplica às vendas. A Salesforce, empresa norte-americana de software on demand, famosa principalmente pelo seu CRM, criou um clima de competição saudável entre os seus colaboradores, utilizando um aplicativo que exibia uma barra de progresso das equipes e uma guia de recompensas selecionadas por elas, alavancando o atingimento de metas. Muitas vezes há até viagens dentre os prêmios. Quem não gosta de um bom desafio, de ter reconhecimento amplo, e ainda de receber bônus por isso?

O Google, sempre inovador, saiu do lugar comum de vendas e de atendimento ao cliente, gamificando o processo interno de prestação de contas de viagens corporativas! Buscando incentivar seus funcionários a informarem suas despesas de viagens em tempo hábil, os colaboradores que não utilizam os subsídios na integralidade, em vez de apenas relatar o que foi gasto, podem escolher entre receber o dinheiro restante em seu próximo salário; guardá-lo para uma viagem futura ou doar para sua instituição de caridade de preferência (desde que entreguem os relatórios e comprovantes dentro do prazo estabelecido). Apenas seis meses após o lançamento desse sistema gamificado, a taxa de conformidade dos funcionários do Google atingiu 100%.

E o que dizer dos treinamentos? Essa área foi uma das que mais se valeu da gamificação nas empresas. Diversas organizações trocaram as capacitações tradicionais e as ações de integração de novos funcionários por cursos interativos, online ou presenciais. O grupo Gerdau, empresa siderúrgica brasileira, aderiu a um programa de treinamento de pessoal com óculos de realidade virtual. Ou seja, o treinamento teórico foi substituído por jogos de conhecimento, muito mais motivadores.

A gamificação é tão inspiradora que auxilia até a organizar tarefas diárias, por meio de apps também desenvolvidos com a estratégia dos games. Processos rotineiros, muitas vezes encarados como entediantes e desagradáveis, ganham a dinâmica, diversão e leveza dos jogos, engajando o colaborador no trabalho, incrementando a sua produtividade e trazendo melhores resultados para o negócio.

Claro que todos esses exemplos que apresentamos requerem um planejamento detalhado sobre as melhores formas de engajar clientes e colaboradores através dos jogos. Antes de qualquer coisa, é preciso definir a finalidade, os objetivos do game que se pretende implementar na empresa. Em segundo lugar, pensar nos elementos-chave que manterão o funcionário ou o consumidor motivado e competitivo durante o jogo, ou seja, os níveis, as missões e as recompensas. Gatilhos de urgência (você tem X tempo para responder a pesquisa de clima organizacional) e de escassez (restam poucos prêmios) também são bem-vindos! No mais, deixe as regras claras, monitore os resultados e divirta-se!


Fabiana Oliveira é formada em Recursos Humanos pela Universidade Estácio de Sá e Técnica em Contabilidade pelo SENAC. Tem experiência de 18 anos na área Financeira e atualmente é Gestora Administrativa, Financeira e de RH na AZ Gestão e Desenvolvimento Empresarial.

Marcela Britto é jornalista formada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, pós-graduada em Assessoria de Comunicação pela Universidade Estácio de Sá – Unesa e com MBA em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais pela mesma instituição. Tem 22 anos de experiência e atualmente é Consultora de Comunicação e Marketing Digital da AZ Gestão e Desenvolvimento Empresarial.

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