A partir de dezembro, o teste da semana de quatro dias começa em algumas empresas brasileiras para avaliar o funcionamento do modelo de trabalho que tem jornada reduzida com a manutenção dos salários, com a promessa da melhoria da produtividade.
A iniciativa de reduzir a jornada de trabalho para quatro dias na semana está em teste globalmente. Na América Latina, o teste começa no Brasil, com intermédio da 4 Day Week, organização que desde 2019 avalia novos modelos de trabalho e produtividade.
Por aqui, a companhia trabalha com a Reconnect Happiness at Work, empresa que atua no crescente segmento da felicidade corporativa.
Interessados em testar o modelo podem se inscrever até o fim de agosto — funcionários também podem indicar suas companhias. A expectativa de Renata Rivetti, da Reconnect, é que de fato participem do projeto-piloto de 30 a 50 empresas.
As empresas que tiverem interesse podem se cadastrar até 31 de agosto por aqui.
Participação tem custos
Quando o site para cadastro foi aberto, há três meses, quase 400 pessoas e empresas manifestaram interesse. Em junho, tiveram início as sessões de informação, quando gestores de companhias dedicaram cerca de uma hora em reuniões virtuais abertas para entender os detalhes do projeto.
A diretora de Comunidade na 4 Day Week Global, Gabriela Brasil, diz que o principal critério de participação é a abertura da empresa para uma mudança cultural. Tamanho, setor ou número de funcionários não são critérios de exclusão.
Muitas, porém, desistem já no processo de inscrição. O piloto tem um custo, que cobre o percurso dos meses seguintes.
O valor, que varia de modelo a ser aplicado pela empresa, dá acesso a uma biblioteca de pesquisas sobre produtividade e à metodologia das aulas. Ao final, essas companhias ganham um selo que as identificam pela participação no programa.
A partir de novembro, o Boston College, que trabalha com a 4 Day Week, começará a acompanhar as empresas do piloto — uma avaliação será feita com três meses e depois ao final. A ideia é ter métricas para as empresas.
“O investimento financeiro acaba sendo mais simbólico. É muito mais investimento de tempo para mudança, de a empresa olhar para a cultura e estar disposta a ser mais produtiva, a trabalhar melhor, a rever a quantidade de reuniões”, diz Rivetti.
Há empresas curiosas e interessadas na novidade, mas nem todas têm a vontade de testar a aplicação na prática.
Mudança na forma de trabalho
Se a mera ideia de eliminar um dia da rotina parece desafiadora, Rivetti e Brasil destacam que a premissa do projeto vai além: reduzir a jornada para quatro dias depende de mudar o modo de trabalhar, reorganizar a comunicação e, principalmente, aumentar os critérios para reuniões —que precisam ser mais curtas e mais resolutivas.
“As reuniões precisam ser mais pautadas, precisam ser direcionadas. O problema pode ser pensado antes, registrado antes para que todos estejam preparados”, diz Gabriela Brasil.
A cena clássica da vida nos escritórios, como a equipe sentada ao redor de uma grande mesa oval ou redonda, foi alterada a partir da pandemia com as equipes em modelo híbrido ou remoto, mas ela ainda precisa ser repensada para esse futuro em que se trabalha menos e com melhor qualidade.
Uma pesquisa de 2022 da Harvard Business Review mostra que 70% das reuniões tiram os empregados dos trabalhos produtivos. A redução no volume de compromissos desse tipo também diminui a percepção dos funcionários sobre o microgerenciamento feito por chefes, algo que, em geral, é lido como excesso de vigilância pelas forças de trabalho.
Teste mostra melhora na produtividade
Quem já testou outro desenho de semana de trabalho relata bons resultados. Na empresa de serviços financeiros Efí, o período de teste foi renovado por mais um ano. Os primeiros seis meses, diz a gerente de Recursos Humanos, Glícia Braga, foram os mais difíceis pelo volume de ajustes necessários.
Um dos pontos que precisaram ser “consertados” ao fim do primeiro semestre seguinte foi a calibragem do dia a menos de trabalho com os feriados. Para evitar que o número de folgas ficasse com frequência maior do que os de trabalho, agora as equipes têm de escolher um ou outro.
A trava garante que a jornada de trabalho fique em 32 horas semanais, independentemente de outras pausas, e ajuda a manter o volume de trabalho.
Os primeiros dados coletados pela empresa com os líderes de equipe apontam para um aumento na produtividade. Os números também melhoraram conforme as equipes se acostumavam com o modelo.
Em novembro de 2022, 86% dos líderes disseram que o nível de produtividade se manteve estável ou aumentou. Neste ano, em maio, 100% consideraram ter havido manutenção ou aumento nas entregas das equipes.
Na Efí, os testes para a redução da jornada para 32 horas semanais (em substituição às 40 horas) foram incluídos em acordos fechados com os sindicatos de trabalhadores em Recife, Ouro Preto (MG) e São Paulo, onde a empresa está instalada.
Com informações Folha de S Paulo
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