A transformação digital está liderando os negócios no mundo e é uma das principais razões para a transformação das empresas. Mas fazer essa transformação não significa apenas reduzir custos, ter um data center ou um software novo. “A questão é como o digital pode se tornar um impulsionador para mudar o modelo de negócios”, afirma Peter Gassmann, líder global da Strategy&, consultoria estratégica da PwC.
Nesse sentido, os Estados Unidos estão mais avançados no processo de transformação, mas o Brasil não fica tão atrás, de acordo com Gassmann, que falou ao Valor durante visita ao Brasil neste mês de novembro.
Como exemplo do avanço brasileiro, o executivo cita o setor bancário, um dos que mais têm investido para atender às necessidades de seus clientes, facilitando transações pelo meio digital. Isso ocorre tanto nas startups de tecnologia financeira (as fintechs), nos bancos digitais, quanto nas instituições financeiras tradicionais.
No caso dos bancos tradicionais, por terem uma infraestrutura e estrutura de dados muito complexa, “às vezes é difícil ser realmente novo e desenvolver o novo”, reconhece o executivo. No passado, o foco de investimento do setor financeiro era mais em infraestrutura, controle da inflação e outros temas de negócios, compara ele.
“Agora, podemos ver que tem um tipo de revolução no Brasil em termos de serviços financeiros, com muita gente que não usava os serviços aderindo ao sistema bancário. Os bancos agora estão investindo muito mais no relacionamento com o cliente.”
Entre as inovações no sistema bancário brasileiro, Gassmann cita investimentos relevantes em inteligência artificial, novos tipos de promoção e melhorias para os clientes, facilitando as transações on-line. “Os bancos tradicionais estão se reinventando para competir com os digitais, pois a competição é grande com as fintechs”, observa o executivo.
Para Gerson Charchat, sócio da Strategy&, a maturidade e inovação cresceram no Brasil. “Nos últimos dez anos, todos estão investindo mais. Com isso, o padrão de concorrência é maior do que era no passado”, pondera o executivo.
Charchat diz que o Brasil está se tornando mais relevante para o grupo PwC e o mercado. Os clientes estão investindo muito em tecnologia, mas boa parcela deles não têm estratégia para longo prazo.
O Índice Transformação Digital Brasil 2023 (ITDBr), elaborado pela PwC Brasil e Fundação Dom Cabral, indica que o segmento de serviços financeiros é o mais avançado em relação à transformação digital. Na escala de 1 a 6, o segmento obteve índices acima de 4 em 7 das 10 dimensões analisadas.
Outros países também avançaram rápido ultimamente, como é o caso da Turquia e do Oriente Médio, destaca Gassmann. As instituições nesses países estão usando menos agências e mais o provimento de acesso direto aos serviços bancários.
Mas em relação a outras áreas analisadas no ITDBr, a menor pontuação (2,9) foi dos setores de saúde e de produção industrial. “Quando consideramos a população total [do Brasil], a maioria, 75%, recorre a hospitais públicos, os quais não tinham o mesmo acesso a recursos e tecnologia alcançados pelo setor privado”, diz Charchat.
A comparação do setor privado de saúde no Brasil com o exterior mostra que aqui há investimentos importantes em tecnologia, destaca Charchat. É o caso, por exemplo, dos cinco maiores hospitais do país listados em um ranking global.
Ainda assim, ele considera que há desafios, no sentido de como conectar tudo, garantir que o paciente tenha o melhor tratamento, custo do tratamento e as informações referentes ao caso sejam compartilhadas com todos os envolvidos.
Quanto ao hospital público, o executivo recomenda que são necessários mais investimentos, mesmo em parceria com o setor privado. Há países que estão liderando isso com muita automação baseada em dados.
Mas foi durante a pandemia de covid-19, que forçou o isolamento social, que houve importantes avanços na área da saúde por meio digital, afirma Gassmann. “Provavelmente, temos cuidado de saúde com tecnologia de ponta para 10% da população, mas para os outros 90% há um enorme espaço para avançar”, observa o executivo.
De acordo com o ITDBr 2023, a visão estratégica é o termo que melhor resume a compreensão que 67% dos entrevistados têm da transformação digital nas organizações. O resultado mostra que o processo de digitalização vai além do nível operacional e de curto prazo.
Agora, está em estruturação a 10ª edição da pesquisa e Prêmio Valor Inovação Brasil 2024, sob comando da Strategy& e do Valor. Esse é um dos motivos da visita de Gassmann ao Brasil.
A edição de 2024, que apontará as organizações mais inovadoras setorialmente e o ranking das 150 com as melhores práticas de inovação do Brasil, tem novo olhar para o futuro. O Prêmio Valor Inovação Brasil já avaliou mais de mil empresas brasileiras desde sua criação.
Para inovar, as empresas precisam entender os seus dados e, em algum momento, levar para a nuvem a infraestrutura de tecnologia da informação, aconselha Gassmann. Nem todas as empresas fizeram isso, mas agora estão nesse processo e podem aplicar o método de inteligência artificial.
No caminho da transformação digital das organizações nos últimos cinco anos, inteligência artificial e fronteira tecnológica foram mencionadas por 12% das empresas entrevistadas em 2023. “Ninguém falava sobre inteligência artificial há dois anos. E neste último ano, temos quase 10% dos pontos referentes à inovação relacionados à inteligência artificial”, destaca
Charchat.
“As empresas com receita acima de R$ 500 milhões são as que realmente precisam investir em inovação e em tecnologia”, sugere Charchat.
Fonte: Valor Econômico
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