Demanda por recursos está em alta nos bancos de fomento, mas orçamento tem sido menor
O papel dos bancos de fomento no financiamento aos projetos de energias renováveis no Brasil sempre foi e continua sendo importante, mas o mercado de capitais vem ganhando espaço. A tendência, segundo especialistas, é que esses projetos passem a ser bancados de forma híbrida.
O Banco do Nordeste do Brasil (BNB) vem sendo protagonista no financiamento às renováveis pela vantagem competitiva da região nos projetos de energia solar e eólica e pelo seu funding (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste, FNE). O banco tem oferecido as melhores condições para as empresas: crédito de até 24 anos, com cinco de carência, e taxas de IPCA + 2,5% a + 5% ao ano.
“O BNB quer ser o grande protagonista no financiamento aos projetos de energia renovável, que são importantes para o Nordeste e para o Brasil”, afirma Anderson Possa, presidente interino. Os planos são de dobrar, em 2022, os recursos para renováveis, atingindo cerca de R$ 15 bilhões. O funding virá de instituições como International Finance Corporation (IFC) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Hoje, os recursos do BNB provêm apenas do FNE e não serão suficientes para atender à demanda.
O banco financia também a aquisição de placa de energia solar por pessoas físicas e pequenos empresários, por meio do FNE Sol, cujos desembolsos subiram de R$ 250 milhões (2019) para R$ 266 milhões (2020) e devem encerrar 2021 em R$ 300 milhões. Já os desembolsos para projetos de geração centralizada de energia solar e eólica devem ficar em R$ 8 bilhões neste ano, frente a R$ 5 bilhões em 2020 e R$ 9 bilhões em 2019.
“Os recursos dos bancos de fomento para os projetos de renováveis se reduziram por questões orçamentárias, mas a demanda aumentou”, diz Igor Fonseca, responsável pelo project finance do Santander para o setor de energia. Daí entra o mercado de capitais. Neste ano, até agosto, foram emitidos R$ 760 milhões de debêntures incentivadas de renováveis (considerando biomassa), mas Fonseca pontua que muitas outras operações devem ocorrer. Isso porque houve um deslocamento do mercado regulado para o livre (que representa a maioria dos projetos de eólica e solar), e essa mudança demandou aprendizagem por parte dos investidores. Agora que eles já estão familiarizados, e considerando a alta dos juros, vêm mostrando forte interesse pelos títulos de projetos de eólica e solar.
Da parte das empresas, o maior interesse pelo mercado de capitais decorre das mudanças no BNDES. “Com a taxa de longo prazo, as condições via mercado de capitais e BNDES se aproximaram e os projetos de valores menores já têm ido direto para o mercado”, diz Allan Gabriel, corresponsável pela área de energia de project finance do Itaú BBA. Isso ocorre quando a janela de mercado está aberta, ou seja, não há forte aversão a risco.
Carla Primavera, superintendente da área de energia do BNDES, ressalta o papel do banco no apoio a projetos inovadores, como o primeiro parque híbrido de geração do Brasil (que une as fontes eólica e solar), em Curral Novo do Piauí (PI), que contou com financiamento de R$ 189,9 milhões. O banco financiou projetos de geração eólica e solar de 1,1 GW em 2019, 1,39 GW em 2020 e deve chegar a 1,128 GW neste ano – o primeiro em que os projetos de solar superam os de eólica (700 MW frente a 428 MW).
O diretor de crédito a infraestrutura, Petrônio Cançado, diz que o BNDES tem atuado de forma a associar a prestação de serviços de assessoria e estruturação de projetos à concessão de crédito – um dos objetivos é dividir o risco com o mercado e atrair novos participantes. Outro é atuar como provedor de garantias: “Como temos condições de avaliar bem o risco dos projetos, estamos fazendo um esforço gradual para atuar como provedores de fiança”.
Duas das companhias que acessaram o mercado de capitais para se financiar são a Aeris, que listou suas ações na B3 em 2020, e a Órigo Energia – que planeja fazer o mesmo. A Aeris, que fabrica pás eólicas, antes de lançar ações na bolsa financiava as suas operações por meio de instituições financeiras, que provinham 82% do capital (os 18% restantes de acionistas). A companhia saldou financiamento com o BNDES no 2º trimestre.
A Órigo vem recorrendo ao mercado de capitais: “Somos um caso à parte no setor, por conta da necessidade de desenvolvermos os nossos projetos rapidamente”, diz Rogério Santos, diretor financeiro. A empresa atende a cerca de 20 mil clientes e a expectativa é chegar a 30 mil no fim do ano, com a expansão da capacidade instalada de 63 MW para 100 MW.